Crítica | Zona de Interesse

Dentre as produções indicadas na categoria de Melhor Filme do Oscar 2024, Zona de Interesse, dirigido pelo inglês Jonathan Glazer, será, possivelmente, aquele que mais dividirá o público. Para muitos, é a retratação da banalização do mal, para outros, uma produção que desperdiça a oportunidade ao não ter uma história para contar. Entendo os dois lados e admiro Zona de Interesse por cumprir muito bem com seu objetivo: contar a rotina fria de uma família nazista que vive ao lado de um campo de concentração.

A fria abordagem de Glazer é tendencial. O tempo todo será perceptível uma câmera estática afastada dos personagens, com o objetivo de distanciar o espectador. Baseado em uma história real, de uma família nazista que viveu a cerca de 150 metros de um campo de concentração, a trama se apoia no minimalismo e na sutileza para assustar.

Zona de Interesse não tem uma gota de sangue em tela e, mesmo assim, é aterrorizante como poucas produções conseguiram ser. Em uma onda de filmes sobre as duas grandes guerras do século passado que não buscam romantizar e sim mostrar a crueldade e banalidade do mal – assim como o candidato a Melhor Filme na temporada anterior, Nada de Novo no Front -, aqui não há tiros ou bombas, é apenas o dia a dia de uma família que naturaliza judeus sendo queimados a poucos metros de sua residência.

Ainda que pareça que eu tenha amado o filme, não foi exatamente essa a minha sensação. A experiência com Zona de Interesse gera uma reflexão e é, com certeza, a temática mais pesada entre os indicados. Ainda assim, me passou a impressão de que falta algo na produção, talvez aprofundar melhor os protagonistas ou até desenvolver a narrativa de forma mais tradicional. No entanto, não acredito ser um defeito do longa, pois a proposta do diretor e dos roteiristas é exatamente essa.

Para assistir Zona de Interesse é preciso ter estômago e paciência. É um ritmo bem cadenciado e, com câmeras paradas nos cenários, sem movimento, a experiência de algumas pessoas pode ser dificultosa. Ainda assim, é um filme extremamente importante e que mostra a dura realidade, onde o mal era tratado como um dia qualquer.