Crítica | Seu Amigão da Vizinhança Homem-Aranha (1ª temporada)

Anunciada inicialmente como uma versão alternativa à história do Homem-Aranha do Universo Cinematográfico Marvel, a animação Seu Amigão da Vizinhança Homem-Aranha mudou de rumos e se afastou de ser apenas um “What If…?” para ainda manter um pouco da ideia de universo paralelo, mas sem precisar de preocupar com cronologia, linha do tempo ou seguir uma base já estabelecida. Isso poderia ser algo bom, e em alguns momentos é um dos trunfos da produção, mas que também acaba por cometer diversos deslizes.

Lançada em quatro blocos e totalizando 10 episódios, a série foca em uma versão ainda mais jovem de Peter Parker, que diferente do que vemos nos filmes live-action estrelados por Tom Holland, aqui está em seu primeiro ano de colegial. Uma batalha entre o Doutor Estranho e uma criatura simbionte destrói o Colégio Midtown e faz com que Peter vá para outra escola, a Rockford T. Bales. Nessa mesma luta, uma aranha modificada geneticamente cai de um portal e acaba picando Peter, dando a ele os seus poderes de Aranha.

Uma nova origem e novos problemas

Uma das decisões mais arriscadas desse desenho foi alterar a origem de Peter como Homem-Aranha. Aqui ele não ganha os poderes antes da morte do Tio Ben, e sim depois, porém triunfa ao criar uma relação maior entre Peter e seu tio, algo que foi completamente deixado de lado na versão que acompanhamos com Tom Holland no papel principal.

No entanto, não vou entrar no território de spoilers aqui, mas algumas revelações feitas ainda nesta temporada, colocam essa origem com algumas situações que são surpreendentes em primeiro momento, mas que geram alguns questionamentos e, no meu caso, certo incômodo com a forma como foi tratada.

Também não gosto de uma produção que se propõe a explorar a origem do Aranha dar um salto de seis meses após o incidente com a aranha e não mostrar Peter Parker descobrindo seus poderes, decidindo combater o crime, entre outros detalhes. Ok, já vimos isso duas vezes no cinema, mas se a ideia da série animada era essa, por que omitir essa parte?

A animação é diferente ou só esquisita mesmo?

Uma outra questão que incomodou muita gente foi o visual da animação. Algumas cenas parecem ser tiradas diretamente dos quadrinhos, inclusive na movimentação dos personagens em tela. Para alguns momentos é legal, principalmente nas cenas de ação e quando o Homem-Aranha se balança entre os prédios de Nova York.

Mas, para momentos de diálogos, é bem difícil de gostar. Também destaco o visual dos personagens em si, que ao menos para mim, ficaram bem feios nessa animação, salvo algumas poucas exceções. Dá para ir acostumando ao longo dos episódios, porém seguiu sem me agradar. Entendo quem tenha gostado.

E a história do desenho, é boa?

Há pontos altíssimos, como o desenvolvimento do personagem Lonnie Lincoln. Para quem já conhece ao menos o nome dele, não é surpresa o que viria a acontecer. Mas para quem não está por dentro de quem é esse personagem, dá para se surpreender e ficar chocado a cada novo acontecimento. Foi o melhor personagem da primeira temporada e há muito mais o que explorar com ele nos próximos anos da série.

Em relação a Peter Parker, não gostei da representação do alter-ego. Peter é aquele jovem com estereótipo de nerd que já está ultrapassado e não cabe mais em produções atuais. Não é porque ele é genial e inteligente que ele precisa ser uma pessoa atrapalhada, que anda se esbarrando em tudo e todos, que fica com o casaco preso no elevador, que não sabe se comunicar. E também achei ele muito bobo e ingênuo, algo que pode ser justificado pela idade, mas que também poderia ser melhor trabalhado.

Já como Homem-Aranha, ele melhora bastante, porém o problema da influência de Tony Stark no live-action aqui é elevado e multiplicado com a figura de Norman Osborn, que age como um mentor cheio de segundas intenções, e que mesmo sendo alertado por diversos momentos, Peter segue agindo com uma inocência difícil de aturar. Infelizmente, não será dessa vez que teremos um Homem-Aranha mais independente, ainda mais levando em conta os ganchos para a segunda temporada.

Sobre o restante dos personagens, há mais tempo de tela para Nico Minoru, a nova grande amizade de Peter, e Harry Osborn, que aos poucos vai se tornando mais aliado e mais amigo dos outros dois citados. Ainda preciso ver mais deles para ter uma opinião consistente. De resto, todos os coadjuvantes e vilões trabalhados, com exceção do Escorpião, acabam por ser esquecíveis. Claro que também há um certo Doutor que está sendo deixado para ser o grande vilão em temporadas futuras.

Vale a pena assistir Seu Amigão da Vizinhança Homem-Aranha?

Se você se considera um fã mais purista do Homem-Aranha, há muitas mudanças aqui que podem causar estranhamento, mas a essência de quem é o herói ainda está lá. Por isso, vale a pena dar uma chance, mesmo que você não goste de tudo, como foi o meu caso, ainda há o que apreciar, referências para encontrar e até mesmo se deixar embarcar nesse universo.

Está longe de ser uma animação perfeita e muita coisa causa estranheza, sejam escolhas narrativas ou os próprios visuais. Porém, também há coisas legais, os uniformes, as aparições especiais, as reviravoltas e tentar antecipar os passos que o desenho vai dar no futuro. Como disse, não é a melhor animação do Homem-Aranha e nem apresenta o melhor do herói nos últimos anos. Assista e faça a sua avaliação. Por aqui, deixo a minha nota em um meio-termo, pois gostei de algumas coisas e não gostei muito de outras.

Seu Amigão da Vizinhança Homem-Aranha (1ª temporada)

Criação: Jeff Trammell
Elenco: Hudson Thames, Colman Domingo, Eugene Byrd, Grace Song, Zeno Robinson, Hugh Dancy, Charlie Cox, Kari Wahlgren, Paul F. Tompkins e mais.
Episódios: 10
Disponível em: Disney+
Nota: ⭐⭐💫 (2,5/5)