Crítica | Senna
Adaptar para as telas a história de um dos maiores ídolos esportivos de um país não é uma tarefa fácil. Ainda mais quando este morreu praticando o esporte, o que elevou ainda mais a aura de idolatria inquestionável. A Netflix assumiu essa missão e, no ano em que completam-se 30 anos de sua morte, a série Senna busca recontar toda a trajetória do herói das pistas.
Para iniciar, é imprescindível comentar sobre a qualidade técnica da produção. A reconstrução histórica dos anos 70, 80 e 90 é digna de super conteúdos de Hollywood e, talvez o grande forte da série, as cenas de corrida. Com uma pegada parecida a Rush – No Limite da Emoção (que conta a rivalidade entre Niki Lauda e James Hunt), a decisão criativa é focar nos detalhes para apresentar a intensidade dos momentos, o que seria difícil com câmeras afastadas. Por conta disso, o movimento de pés nos pedais e a troca de marchas, variando com ângulos onboard, aproximam o público de Senna e da velocidade – para isso, foram reconstruídos mais de 20 carros daquela época.
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Agora, além da pista – que já poderíamos assistir em documentários com a fidelidade das cenas reais -, a missão era manter a aura de heroi de Ayrton, sem torná-lo um personagem sem defeitos. Com a excelente atuação de Gabriel Leone, os produtores optaram por não esconder alguns “defeitos” de Senna, como o delírio pela perfeição e a competitividade, mas pecam ao forçar a barra no “bom mocismo”, como se Ayrton sempre fosse prejudicado quando era derrotado.
Ainda assim, boas rivalidades são apresentadas muito bem. É o caso dos enfrentamentos com Alain Prost (Matt Mella) e os debates intensos com os comandantes da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Algo que gerava dúvidas antes do lançamento da série, ela não busca o drama para emocionar o tempo todo, pelo contrário, é uma ode a Ayrton Senna e tudo que ele representou para a população brasileira.
O que fica nítido quando, em ótima decisão, nos é apresentado o “povão” assistindo à Senna nas madrugadas, em especial nos dois títulos mundiais conquistados em Suzuka, no Japão. Para quem não viveu na época, consegue entender o fenômeno que Ayrton foi para o Brasil. Algumas polêmicas a parte – como a pequena participação de Adriane Galisteu e o foco dado para Xuxa -, a série é regular até o quinto episódio, aprofundando todos os trechos da carreira do piloto, desde o kart até a F1, algo que se perde, em parte, entre 1991 e 1994.
No entanto, é justificado pelo grande episódio final. Dedicado exclusivamente ao fatídico GP de Ímola de 1994, parece que estamos acompanhando um documentário e torcendo para que o final nunca chegue. E quando ele chega, é difícil segurar as lágrimas. Seja você um fã ou apenas mais um brasileiro, o impacto emocional toca a todos.
De forma geral, Senna é uma série que faz jus a toda a história de um dos maiores ídolos esportivos deste país e mostra que o Brasil pode produzir excelentes conteúdos, sem deixar nada a desejar para as super produções de Hollywood.
Senna
Direção: Vicente Amorim, Julia Rezende e Marcelo Siqueira
Ano: 2024
Elenco: Gabriel Leone, Kaya Scodelario, Patrick Kennedy, Pâmela Tomé, Gabriel Louchard e mais.
Duração: 6 episódios
Nota: 4/5
Sobre o Autor
- Jornalista, 26. Repórter no Folha do Mate, podcaster no Na Tabela e HTE Sports. Pitacos sobre cinema e cultura pop no Entre Sinopses.
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