Crítica | Guerra Civil
A produtora A24 tem sido uma constante quando o assunto são filmes de terror nos últimos anos. No entanto, no início de 2024, a queridinha do público cult apostou alto com Guerra Civil, que nos apresenta um grupo de jornalistas durante disputas separatistas no Estados Unidos. Em meio aos tiroteios padrões desse tipo de produção, a trama desenvolve a importância da profissão e, principalmente, os riscos e méritos do fotojornalismo.
Dirigido por Alex Garland (Ex Machina), Guerra Civil acompanha uma equipe de jornalistas de guerra, composta pela fotógrafa Lee (Kirsten Dunst) e o jornalista Joel (Wagner Moura), que percorrem o país para registrar o cenário das ruas. Durante o trajeto, Jessie (Cailee Spaeny) e Sammy (Stephen Henderson) incorporam a equipe. Em busca de uma entrevista com o presidente dos Estados Unidos, o grupo acaba desafiado a enfrentar forças do governo e presenciar cenas de guerra.
Guerra Civil é uma ode ao fotojornalismo. Ainda que pareça, em diversos momentos, apenas vangloriar e jogar flores na profissão, mostrando a importância da atuação do fotógrafo, também nos apresenta o peso de presenciar atos tão cruéis. A expressividade de Wagner Moura como Joel, somado ao profissionalismo e experiência da Lee de Kirsten Dunst, são o contraponto perfeito para a inexperiência e medos de Jessie, que está sendo inserida neste mundo – em meio a uma guerra que mudará a história americana.
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Ainda que vanglorie os jornalistas pelo risco para produzir as notícias e fotos, o roteiro não tem vergonha de mostrar a falta de empatia dos protagonistas. O importante é a foto e o texto, não importa se pessoas estão morrendo na frente. Enquanto isso, Jessie tem a evolução de quem ainda não está acostumada ao ambiente e, aos poucos, se torna tão fria quantos os colegas. No entanto, Garland transforma essa frieza em orgulho, o que torna os personagens quase que heróis com câmeras nas mãos.
A direção de Garland é extremamente feliz nos planos – até porque, em um filme sobre fotografia, é o mínimo que esperamos -, mostrando os impactos da guerra, crua e sem romantismos. Ainda que tome partido na disputa ideológica, Garland fica no limiar de heróis e vilões o tempo todo, sendo que o presidente americano é o único visto como inimigo claro. A cena final é uma clara demonstração disso, onde vemos a força de uma foto e de uma declaração – inclusive, impactante.
O grande pecado do longa é a tentativa de subir uma prateleira como filme de ação no terceiro ato. Garland dirige boas cenas em espaços menores (vide Ex Machina), quando a batalha é voltada para uma cidade grande, a câmera fica confusa e passa a impressão de artificialidade – sendo que o filme sempre voltou o enredo com os pés no chão.
A A24 tem se aventurado pouco fora do terror, no entanto, em Guerra Civil acerta em cheio. Ao seguir uma equipe de jornalistas em meio a uma guerra nos Estados Unidos, o longa é sutil e cruel, no tom quase perfeito.
Guerra Civil (Civil War)
Direção: Alex Garland
Ano: 2024
Gêneros: Ação
Elenco: Wagner Moura, Kirsten Dunst, Cailee Spaeny, Stephen Henderson, Jesse Plemons e mais.
Duração: 1h49min
Nota: 4/5 ⭐
Sobre o Autor
- Jornalista, 26. Repórter no Folha do Mate, podcaster no Na Tabela e HTE Sports. Pitacos sobre cinema e cultura pop no Entre Sinopses.
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