Crítica | Coringa: Delírio a Dois

Crítica | Coringa: Delírio a Dois

Compartilhe nas redes!

Quando o primeiro filme do Coringa foi anunciado, a minha reação e a de muitas pessoas foi a mesma: é necessário um filme-solo do maior vilão do Batman? Quando o longa foi lançado, além de ser uma grande obra e que se distancia do material-fonte para trazer um intenso estudo de personagem, essa dúvida se transformou em admiração. Então, a sequência, amplamente negada por seus realizadores anteriormente, acabou sendo confirmada.

Após isso, os rumores davam conta que o longa traria elementos de musical. A escalação de Lady Gaga por Arlequina só colocaram mais “lenha na fogueira”. Então veio o primeiro trailer, as primeiras entrevistas e um discurso desarmônico: enquanto tudo dava a entender que se tratava de um musical, o próprio diretor do filme dizia que não era bem assim, até mesmo o termo “semi musical” chegou a ser usado.

Pois bem, ao assistir Coringa: Delírio a Dois, que chegou aos cinemas mundiais a partir de 3 de outubro de 2024, a sensação que fica é frustração. Tanto por não ter gostado como queria desta obra isoladamente, quanto pelo que este segundo filme faz com o primeiro. Todd Phillips aparentemente não gostou da recepção que parte do público teve ao longa anterior e aqui resolveu implodir tudo o que realizou anteriormente.

A sinopse é a seguinte: Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) está preso após os crimes que cometeu, inclusive o assassinato do apresentador Murray Franklin (Robert De Niro). Enquanto aguarda o julgamento nos tribunais, Fleck é colocado para participar de aulas de música e lá encontra Lee (Lady Gaga), que fará com que ele não se sinta mais sozinho e despertará uma nova forma de liberar suas emoções e pensamentos.

Havia diversas formas de fazer Coringa 2 dar certo. E Todd Phillips escolheu as piores possíveis. Até mesmo a parte musical, tão criticada pela maioria, tinha como funcionar se fosse bem executada e melhor encaixada com a trama, não sendo apenas esquetes para deixar claro e evidente os delírios vividos de Fleck. Pesa contra também o fato de Phoenix não ser cantor, destoando bastante em relação aos momentos em que Lady Gaga entoa sua bela voz, sendo o ponto alto desses cenas.

Dramaticamente falando, Joaquin Phoenix dá show mais uma vez. Seja na fisicalidade representada na fragilidade corporal de Arthur Fleck ou na confiança e sordidez demonstrada quando quem está em tela é o Coringa. Porém, como o próprio criador do longa-metragem rejeita o que criou no primeiro filme, servindo em Delírio a Dois quase uma resposta Anti-Coringa de 2019, todo o resto parece não fazer sentido.

Até mesmo as brincadeiras com teorias bastante comentadas pelos espectadores, e que de alguma forma se confirmam verdadeiras ou são descartadas aqui, parecem acontecer somente para jogar na cara do público: “eu vi o que você falou, então toma isso”.

O relacionamento entre Fleck e Lee é um dos pontos mais baixos do longa. Mesmo que compreenda uma certa inversão de papeis escolhida para alavancar a trama e impulsionar os objetivos e desejos dos personagens em tela, falta química, carisma e até mesmo mais tempo de tela juntos para que seja possível digerir essa paixão avassaladora que chega tão repentinamente.

Por fim, tenho problema com algumas questões do roteiro e principalmente com a montagem do filme. A edição se perde para encaixar os momentos musicais em situações que somente servem para tirar quem está assistindo da imersão completa, mais atrapalhando do que ajudando a contar a história.

No fim das contas, Coringa: Delírio a Dois tem ousadia ao buscar não jogar no seguro, o que seria muito fácil, mas também exagera em colocar uma proposta que nem ele mesmo tem confiança em realizar e não se justifica na narrativa. Se você gostou, está tudo bem. E se você, assim como eu, não gostou, não significa que não entendeu o filme como muita gente vem tentando falar de forma irônica, mas que simplesmente não encontrou nessa produção os valores esperados para ter uma avaliação melhor. Que pena.

Leia a crítica de Lobos, novo filme de Brad Pitt e George Clooney


Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux)

Direção: Todd Phillips
Ano: 2024
Elenco: Joaquin Phoenix, Lady Gaga, Zazie Beetz, Brendan Gleeson, Catherine Keener, Steve Coogan e mais.
Duração: 2h18min
Nota: ⭐ ⭐ (2/5)


Spoiler — final explicado de Coringa: Delírio a Dois

O filme deixa algumas questões que podem não ter ficado claras ao espectador durante a sessão no cinema. Confira, no vídeo a seguir, as minhas explicações e interpretações do final de Coringa: Delírio a Dois.

Sobre o Autor

Heider Mota
Heider Mota
Baiano, 28 anos, jornalista. Gosto de dar meus pitacos sobre filmes e séries por aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *