Crítica | Assassinos da Lua das Flores
Martin Scorsese, aos 81 anos, é um cineasta que nada mais tem a provar. Responsável por diversas obras-primas do cinema, o diretor poderia muito bem ficar em uma certa zona de conforto, afinal, qualquer filme lançado com o selo Scorsese já chamaria atenção por si só. Mas não é isso que acontece em Assassinos da Lua das Flores.
A história, inspirada no livro Assassinos da Lua das Flores: Petróleo, morte e a origem do FBI, traz alguns dos principais elementos da obra-fonte, mas muda a abordagem. Em vez do foco nos investigadores e no caso que acabou por dar origem ao FBI, o filme deu voz ao povo indígena Osage, as vítimas dos terríveis assassinatos relatados em ambas as obras.
Com suas 3 horas e 26 minutos de duração, o longa-metragem passeia por diversos elementos da história, desde explicar a ‘expulsão’ dos povos indígenas nos Estados Unidos de suas terras à sua realocação em territórios como Oklahoma, a ascensão financeira em decorrência da abundância de petróleo neste novo lar e como o ‘homem-branco’ cometeu atrocidades para tomar conta da fortuna dos Osage.
Acompanhamos a jornada de Ernest (Leonardo DiCaprio), que retorna da Primeira Guerra Mundial e vai viver nas terras de William ‘King’ Hale (Robert De Niro). Hale é um benfeitor ao povo Osage, aprendendo a falar sua língua nativa e os ajudando de diversas formas. Ao começar a trabalhar como motorista para Mollie Kyle (Lily Gladstone), Ernest se apaixona e se casa com ela. No entanto, quando diversos membros do clã Osage, incluindo parentes de Mollie, começam a morrer misteriosamente, Mollie pede ajuda e o agente Thomas White (Jesse Plemons) investiga o caso.
Scorsese, como disse no início do texto, não vai pelo lugar comum. Ele poderia somente adaptar o livro e glorificar a história da criação do FBI, tratar os ‘homens-brancos’ do governo como os salvadores da pátria. Mas, com tamanha experiência e sem precisar fazer as vontades da indústria, o cineasta escolhe um caminho mais difícil, mudando a abordagem para dar foco naqueles que deveriam ser os verdadeiros protagonistas. Pelo título do filme não é difícil imaginar que vemos muita brutalidade. É triste acompanhar cada morte dos Osage, ainda que não nos surpreenda. O filme é visceral e tem cenas que incomodam só de olhar, mas também mostram a frieza dos acontecimentos e em nenhum momento querem espetacularizar as mortes. Nada de câmera lenta, filmagens mais estilizadas ou algo do tipo. É tudo tão cru quando presenciar algo desse tipo.
Em termos de atuações, ninguém manda melhor que Lily Gladstone. Sua Mollie é doce e forte, ingênua e determinada, uma pessoa que quando entende o que está acontecendo, sabe que precisa agir com inteligência para não se tornar a próxima vítima. Não se trata de uma dama fatal ou uma final girl do cinema, mas sem dúvidas é uma das mais interessantes dos últimos anos. DiCaprio está bem, mas não é um dos seus papéis de maior destaque. De Niro vive um personagem que é um clássico vilão. Pela frente se finge de amigo e bondoso, enquanto pelas costas planeja as maiores atrocidades, além de um grande manipulador. Os outros coadjuvantes também estão bem, mas sem muito a destacar.
A fotografia impressiona, bem como o uso de muitos efeitos práticos para recriar uma Oklahoma dos anos 1920. O ritmo não é acelerado, mas também não é devagar. Acontece muita coisa e a duração do filme se justifica pela intensidade dos acontecimentos. Mas também entendo que não é um filme para todo mundo, muita gente pode se incomodar com as mais de 3 horas.
Assassinos da Lua das Flores é um belíssimo filme, que justifica todos os elogios e indicações a prêmios que recebeu. Acima de tudo, é uma prova que a experiência de um cineasta pode fazer a diferença na hora de fazer escolhas que certamente não vão agradar a todos, mas que servem ao propósito de contar a história do jeito que ele acredita que deve ser contada.
Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon)
Direção: Martin Scorsese
Ano: 2023
Gêneros: Drama
Elenco: Lily Gladstone, Leonardo DiCaprio, Robert De Niro e mais
Nota: ⭐⭐⭐⭐(4/5)
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