Crítica | Corra!

Um filme de terror tem diversos caminhos para escolher. Temos os mais escrachados, os mais diferentões, aqueles que se mesclam com a comédia, os que sequer chegam a ser assustadores e também temos os que conseguem usar as críticas sociais como centro da sua trama. Corra se encaixa perfeitamente nessa última categoria.

Na trama acompanhamos Chris (Daniel Kaluuya), um jovem negro que visitará os pais da namorada Rose (Allison Williams). O que parece ser algo trivial no cotidiano de qualquer pessoa aqui é algo repleto de tensão, principalmente pelo fato da família da namorada serem totalmente desconhecidos a Chris e, claro, por ele ser negro e a namorada e seus familiares brancos.

Colocando essa situação em um contexto dos Estados Unidos pós-Obama e nos primeiros meses do governo Trump, já que estamos falando de um filme lançado em 2017, é possível entender de onde vem a tensão do filme.

Corra! acerta ao transformar uma situação trivial em algo completamente assustador. Quem se coloca na pele do protagonista com certeza vai sentir muito mais o medo e o terror que algo desse tipo poderia provocar.

Ao abordar racismo (escancarado, como na cena do policial no início do filme e velado, em um diálogo sobre votar em Barack Obama pela terceira vez) de um jeito inventivo e original, Corra! mostra que dá para fazer do terror um gênero com muito mais camadas. O objetivo aqui não é assustar ou aterrorizar, mas utilizar os sustos como alegoria para diversos elementos.

Corra! foi premiado, de forma justa, com o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018. E justamente por ter um roteiro tão acertado, que não precisa exagerar (até o ato final) para surpreender com suas reviravoltas arrepiantes, o filme marca seu lugar na história e, sem dúvidas, é um dos melhores dos últimos anos.

Direção: Jordan Peele
Ano: 2017
Gêneros: Terror e suspense
Elenco: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Bradley Whitford, Catherine Keener e mais.
Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐ (5/5)