Barbie (2023) – Crítica
Barbie é, talvez, o filme que mais gerou expectativa na crítica e no público em 2023. Não exatamente por ser um filme sobre a boneca Barbie ou pela dobradinha com Oppenheimer (que estreia no mesmo dia), mas pela curiosidade que o desconhecimento sobre como poderia ser o filme em live-action (com atores) sobre um dos brinquedos mais famosos do mundo.
O filme poderia tomar algumas direções distintas: ser uma história clássica e infantil sobre uma boneca que vira gente, ser um filme completamente fora da casinha e apostar em variados gêneros ou ser o que ele foi: um filme com uma mensagem a passar.
Esse filme vai gerar polêmica e muita discussão. A primeira delas acredito que será o choque de muitos em descobrir que não se trata de uma trama infantil. Barbie pega emprestados os nomes e visuais da boneca, mas nunca se propõe a ser um filme para crianças.
A cena inicial, já mostrada no primeiro teaser, faz referência a 2001 – Uma Odisseia no Espaço. Isso por si só já diz muito, afinal são poucas as crianças que vão captar essa referência. Mas quando a trama nos “engana” sobre um certo direcionamento, as dúvidas sobre ser um filme infantil ou não caem por terra.
Barbie é sobre se redescobrir. Margot Robbie vive a primeira boneca Barbie, no filme chamada de Barbie Estereotipada. A Barbie dos padrões da época: loira, branca, magra e perfeita. Sempre sorridente, acostumada com a rotina sem sequer reclamar. No entanto, quando ela começa a notar algumas “falhas” no seu dia-a-dia, ela precisa ir ao mundo real para entender o que está acontecendo.
O filme da Barbie também fala sobre legado. Como a boneca foi a representação de uma quebra no que diz respeito à forma de brincar: antes as bonecas eram sempre bebês e a única forma de brincar com elas era sendo uma espécie de mãe. Com a chegada da Barbie, muitas crianças puderam se inspirar e buscar variadas profissões. A mistura entre realidade e imaginação é o mais próximo de algo infantil que o filme pode chegar.
Há diversas quebras no filme usadas em tom de piada para ironizar questões mais pesadas com a falta de oportunidades dadas às mulheres ou no fato de uma empresa que fabrica bonecas ser totalmente controlada por homens.
A estrela do filme é mesmo Margot Robbie, que tem o melhor arco: a Barbie dela não só termina o filme de forma totalmente diferente do que iniciou como inspira a mudança no local em que vive. Como, em teoria, a Barbie foi criada para fazer. Quem também se destaca é Ryan Gosling como Ken, outro que está perdido e em busca de identidade. Esse personagem, talvez até gere mais polêmica que a própria Barbie.
O outro destaque é America Ferrera como Gloria, uma mãe que sofre pelo distanciamento da filha conforme a mesma foi crescendo. Ela é uma das poucas mulheres que trabalham na ficcional Mattel do filme, e ainda como papel de secretária. Significativo não é mesmo?
O elenco ainda tem várias estrelas em participações e pontas pequenas, a maioria delas usadas para piadas bem encaixadas ao longo das quase duas horas de projeção.
Meu ponto negativo é que por ter tantas ideias interessantes, Barbie por muitas vezes não sabe o que fazer com elas e o filme acaba ficando com a sensação de falar sobre coisas demais sem dar a devida importância a tudo de forma igual. Mas nada que comprometa a experiência.
Barbie é interessante, desde o seu ponto de partida. Começa como um conto de fadas e termina com uma mensagem social importante, que certamente terá diferentes interpretações. Alguns vão amar e aclamar, outros vão perder tempo odiando o filme e exercendo seus preconceitos com comentários repletos de frustração na internet. É liberado não gostar do filme, mas já imagino o que uns e outros vão falar por aí.
Divertido e com uma mensagem forte, Barbie é aquilo que eu esperava que ele fosse. E ainda bem que a ótima diretora Greta Gerwig está no projeto para evitar que fosse apenas mais um filme qualquer.
Melhor personagem: Barbie (Margot Robbie);
Melhor cena: Gloria (America Ferrera) fala sobre o que é ser mulher no ‘mundo real’;
Melhor piada: uma narração sobre o sofrimento da personagem em contraste com quem a interpreta.
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